sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esforço

Esforço-me todos os dias para que me entendas. É simples, mas difícil de o conseguires fazer. Apenas tens de me ouvir. Não o digo com os teus ouvidos, esses ouvem perfeitamente o que lhes convém. Digo ouvires-me com o coração. Esforço-me todos os dias para que compreendas isso. E não deveria ser eu a dizer-to mas tu a mim. Tu é que és mais velho, mais experiente e mais sabedor. Se eu tenho a calma para te entender porque não a tens tu? Porque me gritas? Fiz-te mal? Quando, como e onde? Explica-me isto, espera não fugas aos dois assuntos. Onde vais? Porque é que eu tenho de te explicar isso? Não sejas assim. Não te vás embora. Porra, pára quieto, tu é que és meu Pai e não o contrário! Ouve-me uma vez na tua vida com o teu coração. Não te isoles de mim, não me desprezes, não me deixes a falar sozinho. Porque é que é tão difícil para ti ouvir, quando mo exiges a todo o instante? E eu que faço? Obedeço-te na esperança que me ouças no final, que vejas o meu ponto de vista que me compreendas. Se sofreste, quero que saibas que eu também e precisamente pelas mesmas razões portanto como a dor é a mesma vamos parar com os títulos e as merdas que a sociedade e os jornais te metem na cabeça. É que eu leio e vejo as mesmas merdas que tu mas tenho um filtro muito grande na maioria dos assuntos e consigo distinguir com clareza o altruísmo da filha-da-putiçe.

Mas não fujas à conversa inicial... que mal te fiz? Porque é que nunca me consultas quando eu te consulto para tudo? Tenho de mudar a minha estratégia? Tenho de deixar completamente de falar? De falar-te? Deixar de escrever também? Ser o tipo de gajo egoísta que nunca fui em relação a ti e pedir coisas e fazer birras? Porque o havia de fazer agora? Porque é que tem de ser assim?

Que mal te fiz? Quando o fiz? Era quando era ainda um miúdo? Foi em adolescente? Porque é que me olhas dessa forma e estás a maioria do tempo de trombas? Porque é que só sorris na rua, enquanto falas para todos ouvirem, ao mesmo tempo que esbracejas, dizendo maravilhas acerca de mim? Porque me dizem ao telefone que não faço mais que a minha obrigação e no segundo que desligas te vanglorias aos teus amigos? Porque é que para ti aparecer e mostrar-te aos outros é tão importante? Porque é que para ti é tão importante ter coisas caras, carros grandes, em largo número? Porque é que não te contentas nunca com o que tens? E porque é que se preciso de ler me atiras à cara que tenho a casa cheia de livros e que não compreendes porque gasto o meu dinheiro em porcaria?

Esforço-me mas não facilitas as coisas. Imagina que eu te fazia o mesmo que tu fazes aos teus progenitores. A ignorância total. Irias ficar mais feliz? Da próxima vez que me questionares, pensa no que fazes da tua vida, pensa na forma como vives, pensa no sofrimento que causas, e pensa no teu futuro. Também no teu futuro me vou esforçar por que não tenhas amarguras, tudo porque és meu pai, e apesar de nunca me teres compreendido, és uma pessoa essencial na minha vida. Até lá, tenho de continuar lentamente a ouvir as tuas intransigências e preconceitos, esperando que um dia a luz do Sol te ilumine a vida e consigas compreender o mistério que é viver.

domingo, 1 de novembro de 2009

Farto

Estou farto de me apaixonar pelas pessoas erradas,
por todos aqueles que não me entendem,
que não me compreendem,
que se aproximam e se tornam como eu, ou seja, se fartam,
de todos aqueles que apenas procuram um corpo e não uma pessoa,
dos que procuram uma curte e não uma relação,
de todas as pessoas que ainda julgam que a felicidade provém das coisas que têm à sua disposição.

Estou farto de cometer todos os dias os mesmos erros,
em relação às decisões da minha vida,
aos meus dilemas pessoais,
ao ir ou não ir,
ao dizer ou não dizer,
à insegurança da minha pessoa.

Estou farto de mim,
porque tenho tudo para ser feliz e no entanto não o sou,
porque não consigo ter consciência do que é importante para mim em cada momento,
porque não consigo dizer não,
porque julgo ser o super-homem.

Estou farto que toda a gente me trate com desdém,
que não prestem atenção aos meus sentimentos,
que não me saibam ralhar quando mereço,
nem dar carinho quando preciso.

Estou farto de me sentir como um inútil,
e embora tente melhorar todos os dias,
a minha envolvente me diz que não vai ser possível.

Estou farto de viver onde vivo,
e da forma como vivo,
não tendo coragem para mudar,
embora seja urgente a mudança.

Estou farto da monotonia da minha vida,
de fazer as coisas porque tem de ser,
de não tirar prazer do que faço,
e de ser um wannabe para agradar aos outros.

Estou farto de ser boa pessoa,
bom samaritano, e cidadão exemplar,
porque o respeito não é proporcional.

Estou farto de não me conseguir levantar cedo,
mesmo quando não tenho coisas para fazer,
e de não aproveitar o dia ao máximo,
sendo esmagado pela competição.

Estou farto de por e simplesmente não me chegar ao pé de ti, beijar-te e dizer-te o quanto gosto de ti.

Estou farto de esperar horas e dias pela tua resposta de volta,
estou farto de sofrer precisamente por isso,
e mais farto ainda de ao ver-te nos cumprimentar-mos como se nem nos conhecêssemos.

Estou farto de pensar em ti,
farto de sentir a tua falta
e mais farto ainda de perder o meu tempo em função de ti.

Estou farto de ser como sou.