domingo, 15 de fevereiro de 2009

Se tivesse oportunidade este seria o meu monólogo

Corri várias cidades, na esperança de me identificar com alguma. Em cada sítio onde passei procurei sempre o Amor. Ao viajar, mais que o local, os sentimentos são para mim mais importantes. Raramente saio para conhecer um local desconhecido. Viajo sim, para rever pessoas, para conhecer os seus novos amigos e, para alargar o conhecimento cultural do Mundo onde vivo. Ao cruzar as ruas, associo também os cheiros dessas cidades aos do local onde vivo e das pessoas que conheço. Diariamente corro as ruas com o olfacto para me lembrar de amigos, familiares, vilas e aldeias.

Em cada local, sigo um percurso com poucas etapas. Primeiro tenho de me identificar com algo. Depois tenho de conhecer alguem. Depois, apaixono-me sempre. Venlo e Düsseldorf, foi por amor. Vilã Chã também. Escolhi Nijmegen e não Dresden, pela proximidade aos meus amigos e a outras pessoas que já conhecia em Colónia.

Aos 14 anos fui forçado a sair de casa, para uma cidade onde não conhecia ninguém, e aí, nessa cidade forte, farta, fiel, formosa e fria, aprendi aos poucos a ser como ela. Forte, sempre que é preciso; farto de tudo o que não me interessa; fiel a uma razão e a valores em que acredito; formoso, espero vir a ser um dia, e frio. A frieza apodera-se de mim, de várias formas, pois existe no meu nome, no meu coração, e nas noites de Inverno, quando os pés não querem aquecer.

Após este momento no espaço-tempo, decidi vir ao encontro das minhas raízes, para a "Mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa", mas por circunstâncias totalmente alheias aos meus planos acabei na mina de Al-Maden, meu porto de abrigo, casa de todos os sonhos e local de forte influência científica e artística. Aí começei a tornar-me quem hoje sou.

Um acumular de problemas psicológicos, obrigou-me a sair por uns meses, para me reencontrar. Por mais cliché ou merdoso que isto possa soar, foi mesmo essa a razão. Vivi numa cidade pequena, e nunca nesse país tentei procurar as grandes metrópoles, por não me identificar. Um sítio onde as drogas e o sexo de qualquer forma é legal, tende a baralhar-nos os sentidos. Enquanto aí estava, mais por sanidade mental que por uma razão de currículo, aprendi que consigo tornar reais as ideias loucas e estranhas da minha cabeça, quer por esculturas humanas quer por colagens e fotografias. Nessa cidade o meu corpo parecia fraco, pois o coração encontrava-se a milhares de quilómetros do resto de mim, batendo lentamente e fazendo com o que o sangue e os sentimentos demorassem dias a percorrer a Europa.

Finalmente, voltei para a casa que me acolheu sempre com Amor. Essa casa, envolve-nos agora. São todos vocês, sou eu, são eles escondidos aqui ao lado, somos todos. Acredito nas pessoas, e é por causa delas que viajo.

Eu viajo para conhecer a minha geografia pessoal. Vénus, Eros, Agape, Cupido, Philia, Xenia, Storge e Ludus, viajam sempre comigo para onde quer que eu for. Neles e nelas, a íris dos meus olhos responde favoralvelmente às pessoas, às ruas, ao chocolate quente, e a todas as outras sensações que sinto quando cruzo avenidas, onde fisicamente nunca estive, mas que já corri em sonhos.


Obrigado amigos de "As Cidades Impossíveis".... fiquei a pensar muito na peça. Bom trabalho. :)

1 comentário:

Branco Interior disse...

olá meu querido amigo,
Sinto-me feliz por ter passado contigo por umas das "cidades impossiveis", aquela que é Forte Farta Fria Fiel e Formosa, também pode ser Fantástica:)
Um beijinho rexunxudo da Beira,
Paulinha