sábado, 31 de outubro de 2009

Ainda te lembras?

Tempo e espaço são duas coisas que não temos em comum. Estas breves linhas pretendem ser mais que conforto, pretendem ser um regresso ao passado, precisamente àqueles dias em que víamos "o sabor da melancia" ou o "shortbus". Aqueles dias em que depois do café nos íamos infiltrar na loja de livros e DVD's para imaginarmos que filme iríamos ver, ou qual seria o próximo livro na nossa mesa-de-cabeceira.

Os dias (ou as noites) em que comíamos apenas porcarias passando os dias seguintes com planos de corridas e exercícios para compensar os quilos extra que estávamos a ganhar no preciso momento que metíamos as porcarias à boca.

Os risos, as festas, a companhia, o estudo, os filmes, os livros e o teatro. Que saudades agora... e cada dia tenho mais saudades tuas, minha amiga. Sei que não tenho feito, dito, informado o suficiente, mas quero que saibas que ando bem. Aliás, sempre que estou mal tens notícias minhas. Desta vez escrevo-te sem estar nem mal de dinheiro, nem de paciência. Apenas com o mal geral do qual tu também sofres, mal de amor. Continuo com os mesmos dilemas sentimentais que tínhamos em conjunto, precisamente quando comíamos toda aquela junk-food. Já nem me lembro à quantos anos isso foi. Parece que foi ontem e que ainda aqui estás. Às vezes és tão real, outras vezes tenho de me esforçar para imaginar a tua casa e os teus companheiros de renda e amigos em geral.

O frio começou hoje a chegar e talvez esta seja a razão pela qual te estou a escrever.

memória

Agarro-me àquela memória como se não tivesse tido outra em toda a minha existência. Agora recorro a ela, mas nem sei bem porque o faço. Lembro-me bem dessa noite, o rio estava calmo sem neblina e parecia que convidava à conversa. As lâmpadas que emanavam uma luz amarelada no candeeiro da rua por cima de nós, convidavam os mosquitos a um ritual semelhante ao que iríamos ter. Acabávamos de nos conhecer.

Antes desta memória lembro-me do dia que tive, de como este passou e de como foi. Um dia que não se diria de Outono, cheio de sol, com temperaturas altas, poucas nuvens aliados ao stress e poluição citadinos. O motivo da reunião foi a música, próximo dos candeeiros da rua e do rio que a memória insiste em não esquecer. A minha memória foca-se agora na forma como te apresentaste, e no leve sorriso que me lançaste. Talvez nem tenhas consciência de o ter feito naquela altura, mas o teu sorriso ficou gravado em mim, como uma música num disco de vinil. Sempre a agulha das sinapses do meu cérebro passam por essa faixa recordo-me lentamente da tua face, dos teus olhos do teu nariz e do teu sorriso.

A conversa foi o mais leve possível, tentando saber as banalidades da vida de cada um, os projectos, sonhos e ambições. Falei demasiado acho.... mas escutei todas as palavras que me disseste. Desejei conhecer-te mais e melhor, mas sempre que me cruzo com uma pessoa interessante o meu corpo, mas especialmente o meu cérebro tende a reagir da forma mais estranha que as palavras conseguem descrever. As frases deixam de fazer sentido, se é que algum dia o fizeram, e os braços juntamente com as mãos mexem-se à velocidade de uma tempestade tropical, gesticulando demasiado as palavras das frases sem sentido. Estranhas reacções bioquímicas ligadas à íntima psicologia da minha pessoa. Mais uma vez acabei por dizer as coisas erradas enquanto exagerava nos movimentos. Antigamente culpava-me muito mais do que me culpo hoje, mas continuo a sofrer intensamente por cada passo dado em falso. A casualidade não é importante nestes casos, até porque nada é casual ou trivial. Todas as coisas acontecem porque assim tinham de acontecer, visto estarmos todos ligados uns aos outros.

Paro novamente e só já tenho os teus brilhantes olhos postos em mim. Maldita memória...cada vez que me sinto melhor, ela ataca novamente, e o objectivo é sempre o mesmo. Sinceramente já nem sei porque sofro, mas deve ser pela expectativa das relações pessoais. Cada dia que passa, a água dentro de mim que forma os meus órgãos congela um pouco mais, tornando-me este homem coração de gelo, frio e bruto.

A minha imaginação traz o calor da luz do candeeiro onde os mosquitos se juntavam, e aí, juntamente com a memória do teu sorriso, descongelo um pouco. Sinto-me como um frigorífico que estamos sempre a abrir e fechar para ver se no entretanto algo de novo apareceu lá dentro, apenas para fecharmos a porta depressa, porque nada mudou na sua composição mas gastámos energia desnecessária. É assim que me sinto na maioria das vezes. Uma porta entreaberta que liberta o frio para aqueles que estão à volta, e que se esforça duas vezes mais para manter o equilíbrio interno sem o conseguir na maioria das vezes.

Vou deixar este desabafo por aqui, com duas certezas, o cansaço do teu dia-a-dia e a memória do teu belo sorriso que espero um dia ser só meu.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lyla

O que estava combinado era encontrarmos-nos meia-hora antes do concerto para estarmos um pouco à conversa e, desta forma sabermos como tinha corrido a semana a todos, já que não nos víamos desde o fim-de-semana anterior. Entrámos na cave onde ia ser o concerto, que para variar, estava cheio de gente, com pouca luz e com música ambiente a tocar aos altos berros. Alguém sugeriu irmos mais para a frente para não perder pitada do concerto, e assim fizémos.

As luzes ligaram-se iluminando a banda, e foram decrescendo de intensidade com as primeiras batidas da bateria. Sentia-me um pouco cansado, e desviei o olhar para o chão para poder bocejar, levantando depois a cabeça.

Essa foi a primeira vez que te vi. Os teus olhos brilhavam tanto como os holofotes que iluminavam o pequeno palco à nossa frente. O teu sorriso era fantástico, carregado de uma leveza que lembra o algodão-doce, e talvez os teus lábios fossem igualmente doces. Queria tanto perguntar-te o nome mas nem foi preciso, porque a tua amiga virou-se para ti de repente e gritou "Lyla, eles são geniais, não são?".

De repente o barulho de fundo da banda era secundário e quase que ouvia mais alto a tua respiração e os gritos de euforia que libertavas. Também parecia que o meu coração fazia barulhos altos, quase ao ritmo da bateria.

Tentei fazer com que reparasses em mim, mas não tiraste os olhos da banda.

Quando as luzes no final se acenderam, os meus olhos ficaram encadeados por uns segundos, e quando recuperei a visão já não estavas lá. Nunca mais te voltei a ver. Muitas vezes pensei que nem sequer existisses, pois essa foi a única vez que te vi. Seria a minha cabeça que criava a tua visão? Aos meus olhos parecias perfeita, simpática, inteligente, mas sobretudo real. Tudo o que procurava na altura e tudo o que procuro agora. Estavas realmente lá?

Estarei a ficar louco?

admiração

Tudo é motivo de admiração. Já o era antigamente quando sem ter consciência parava para observar os seres estranhos que me rodeiam nos transportes públicos ou em todos os lugares também estranhos onde tenho de ir diariamente. Tudo começou um dia em que saí do banho e, à medida que a névoa que me afastava do espelho se dissipava, comecei a questionar-me com admiração certos traços que tinha no rosto e aos quais nunca tinha prestado atenção. Certamente tinham-me acompanhado pelo menos nos últimos anos, mas escava sempre usando a desculpa dos adultos, a eterna falta de tempo.

A partir desse dia deixei de levar as coisas demasiado a sério e começando a não pensar tanto, e a fazer o meu dia tendo em atenção todas as pessoas à minha volta. De repente o mundo tornou-se o quadro vivo de um museu ainda mais vivo que tenho oportunidade de ver, sem pagar, por se tratar de algo a que por e simplesmente chamamos vida. E o quadro que eu admiro todos os dias fervilha dessa vida, cheia de altos e baixos, caras sorridentes e apáticas, pessoas a pensar e outros a fazerem precisamente o contrário. Toda a espécie de indivíduos de todas as formas, cores, feitios, raças, etnias e estratos sociais.

Onde tinham estado todas estas pessoas, que só agora via? Onde é que eu tinha andado? Porque é que não tinha acordado para esta realidade mais cedo?

Passei a ter como rotina de começo de dia o espelho. Não por uma questão de futilidade mas para admirar o quanto tinha desperdiçado de mim ao longo dos últimos anos. Já nem me conseguia reconhecer quanto mais estar a par do que aqueles que significam algo de especial para mim. Que traços estranhos... e este sinal? Será que sempre o tive aqui?

Saio para os cheiros da rua, e sou atraído para a paragem como os ratos para o flautista de Hamelin, ficando cuidadosamente à espera dessa máquina gigante que tem como função levar-me até outra máquina que me leva ao emprego. E estas máquinas? Sempre aqui estiveram desde que me conheço, mas como fariam antigamente as pessoas quando viviam num determinado lugar e tinham de se deslocar no mesmo dia à outra margem do rio? Seria possível a volta que tinham de fazer para chegarem no mesmo dia? Hoje tudo é facilitado, e nem por isso as pessoas o admiram. Devia haver um apagão daqueles que ficássemos às escuras durante um tempo. Acho que neste caso teria de comprar sal, para conseguir guardar os alimentos que tenho no congelador, mas mesmo assim, seria bom haver um pouco de caos, e darmos mais valor ao nosso meio circundante, em vez de estarmos constantemente a circundá-lo.

Quando sair daqui irei pensar no mesmo no caminho para casa. Até lá, espera-me trabalho. E como o admiro. Significa rendimento, companhia, objectivos, amigos, caras conhecidas, pessoas brutas, rancorosas e ranhosas. Mas preciso de todos eles, elas, sentimentos e objectos para dar o melhor de mim.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Indie, indie

If everything you do has got a hold on me
Then everything I do has got a hole in it
I've been here before I should be used to it
But I can't take it no more, I can't take it no more
Oh whoa, oh whoa whoa whoa

Your mangled heart, your battered love that's hanging on to memories
You're letting go of everything that used to be
I've had enough, you'll build me up to let me down, yeah

If everything I do has got a hole in it
Then everything you do has got a hold on me
I've been here before I should be used to it
But I can't take it no more, I can't take it no more
Oh whoa, oh whoaaaa

Your mangled heart, your battered love that's hanging on to memories
You're letting go of everything that used to be
I've had enough, you'll build me up to let me down
Oooh, Your mangled heart, your battered love that's hanging on to memories
You're letting go of everything that used to be
I've had enough, you'll build me up to let me down, yeah

I don't want the world, I only want what I deserve
I don't want the world, the world, I only want what I deserve
I don't want the world, the world, I only want what I deserve

Your mangled heart, your battered love that's hanging on to memories
You're letting go of everything that used to be
I've had enough, you'll build me up to let me down

Your mangled heart, your battered love that's hanging on to memories
You're letting go of everything that used to be
I've had enough, you'll build me up to let me down



The Gossip - Yr Mangled Heart

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O dia mais feliz da vida de toda a gente,

será o dia da minha morte. Assim, provavelmente todas as chatices se acabarão. Todas as vezes em que sou confrontado com situações que dependem de todos mas que apenas eu faço. Talvez este grito de desespero chegue para mostrar que estou farto de viver no stress do dia-a-dia, em que o "é para ontem" reina.

E parar para pensar? Não é parar para pensar nos passarinhos que cantam tão belos e que dariam um poema fantástico da fauna portuguesa em pleno séc. XXI, mas pensar no pragmatismo da nossa vida para que esse pequeno ou grande poema se torne real. Existem coisas que por mais que não gostemos temos de fazer, para que o mundo e as pessoas circulem. Nenhum esforço é feito em vão, mas quando a maioria dos meus esforços são-me apontados à cara como se fosse um inútil da sociedade, a minha "tampa tem de saltar".

Se eu morresse amanhã, o mundo iria parar? Não. Então, a resposta a todos os dilemas de todos está aí. Parar é morrer, tal como deixar de agir. Não sou um super-homem, apesar de me comportar como tal. Já que vais mexer o dedo para mo apontar, aproveita e junta os outros dedos e o cérebro para algo de produtivo. Até lá, estou ocupado.