Agarro-me àquela memória como se não tivesse tido outra em toda a minha existência. Agora recorro a ela, mas nem sei bem porque o faço. Lembro-me bem dessa noite, o rio estava calmo sem neblina e parecia que convidava à conversa. As lâmpadas que emanavam uma luz amarelada no candeeiro da rua por cima de nós, convidavam os mosquitos a um ritual semelhante ao que iríamos ter. Acabávamos de nos conhecer.
Antes desta memória lembro-me do dia que tive, de como este passou e de como foi. Um dia que não se diria de Outono, cheio de sol, com temperaturas altas, poucas nuvens aliados ao stress e poluição citadinos. O motivo da reunião foi a música, próximo dos candeeiros da rua e do rio que a memória insiste em não esquecer. A minha memória foca-se agora na forma como te apresentaste, e no leve sorriso que me lançaste. Talvez nem tenhas consciência de o ter feito naquela altura, mas o teu sorriso ficou gravado em mim, como uma música num disco de vinil. Sempre a agulha das sinapses do meu cérebro passam por essa faixa recordo-me lentamente da tua face, dos teus olhos do teu nariz e do teu sorriso.
A conversa foi o mais leve possível, tentando saber as banalidades da vida de cada um, os projectos, sonhos e ambições. Falei demasiado acho.... mas escutei todas as palavras que me disseste. Desejei conhecer-te mais e melhor, mas sempre que me cruzo com uma pessoa interessante o meu corpo, mas especialmente o meu cérebro tende a reagir da forma mais estranha que as palavras conseguem descrever. As frases deixam de fazer sentido, se é que algum dia o fizeram, e os braços juntamente com as mãos mexem-se à velocidade de uma tempestade tropical, gesticulando demasiado as palavras das frases sem sentido. Estranhas reacções bioquímicas ligadas à íntima psicologia da minha pessoa. Mais uma vez acabei por dizer as coisas erradas enquanto exagerava nos movimentos. Antigamente culpava-me muito mais do que me culpo hoje, mas continuo a sofrer intensamente por cada passo dado em falso. A casualidade não é importante nestes casos, até porque nada é casual ou trivial. Todas as coisas acontecem porque assim tinham de acontecer, visto estarmos todos ligados uns aos outros.
Paro novamente e só já tenho os teus brilhantes olhos postos em mim. Maldita memória...cada vez que me sinto melhor, ela ataca novamente, e o objectivo é sempre o mesmo. Sinceramente já nem sei porque sofro, mas deve ser pela expectativa das relações pessoais. Cada dia que passa, a água dentro de mim que forma os meus órgãos congela um pouco mais, tornando-me este homem coração de gelo, frio e bruto.
A minha imaginação traz o calor da luz do candeeiro onde os mosquitos se juntavam, e aí, juntamente com a memória do teu sorriso, descongelo um pouco. Sinto-me como um frigorífico que estamos sempre a abrir e fechar para ver se no entretanto algo de novo apareceu lá dentro, apenas para fecharmos a porta depressa, porque nada mudou na sua composição mas gastámos energia desnecessária. É assim que me sinto na maioria das vezes. Uma porta entreaberta que liberta o frio para aqueles que estão à volta, e que se esforça duas vezes mais para manter o equilíbrio interno sem o conseguir na maioria das vezes.
Vou deixar este desabafo por aqui, com duas certezas, o cansaço do teu dia-a-dia e a memória do teu belo sorriso que espero um dia ser só meu.
sábado, 31 de outubro de 2009
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